data-filename="retriever" style="width: 100%;">Os dias de pandemias que suportamos fazem com que mais e mais, sempre mais, livros escorram nas minhas mãos. De repente, Poesia do Brasil, antologia organizada por Manuel Bandeira, publicada em 1963. A respeito do nosso primeiro encontro, quando o conheci no Rio de Janeiro, em 1958, já escrevi aqui, na edição do dia 01/02 de julho de 2017. Mas o que me encanta agora, a antologia em minhas mãos, é a lembrança de um nosso encontro - ele e eu - com Augusto Meyer, dois ou três dias após.
Imediatamente nos tornamos amigos, ele encantado pelo fato de eu, como ele - filho de Augusto Ricardo Meyer e Rosa Meyer - ser também um gaúcho descendente de imigrantes alemães e declamar mais de um dos seus Poemas de Bilu. Quando eu lhe disse que mascava e remascava a minha raiva chewing gum ele me abraçou afetuosamente.
Contei-lhe que meu pai, minha mãe e eu saímos de Santa Maria no início dos anos quarenta. Ele sorriu e disse-me o que eu já sabia. Que se fora para o Rio de Janeiro pelas mãos de Getúlio Vargas e em 1937 organizou o Instituto Nacional do Livro, onde estávamos. Sorrimos mais ainda ao relembrarmos Felipe de Oliveira e nossa terra, onde tudo que se planta cresce e o que mais floresce é o amor.
Meu amigo Augusto Meyer nasceu em Porto Alegre, em janeiro de 1902 e faleceu no Rio de Janeiro, no dia 10 de julho de 1970. Lá se foi, mas continua perto de mim por conta de tudo quanto escreveu, em prosa e poesia.
Um trecho que agora leio no À sombra da estante é encantador: "A janela iluminada noite adentro isola o leitor da realidade da rua, que é o sumidouro da vida subjetiva. Árvores ramalham. De vez em quando passam passos. Lá no alto estrelas teimosas namoram inutilmente a janela iluminada. O homem, prisioneiro do círculo claro da lâmpada, apenas ligado a este mundo pela fatalidade vegetativa do seu corpo, está suspenso no ponto ideal de uma outra dimensão, além do tempo e do espaço. No tapete voador só há lugar para dois passageiros: leitor e autor".
Se cá onde escrevo quinzenalmente houvesse espaço para a transcrição de poemas, eu ocuparia muitas e muitas folhas. Como não há, então irei cometer a ousadia de transcrever, inopinadamente, alguns versos desses poemas:
"Quando a lua sair nós iremos ao campo esmagar o capim, passo a passo, bem juntos, como dois namorados que não gostam de falar quando a lua é mais clara e o coração mais limpo; oh! linhas suaves, como se houvesse em cada coxilha uma saudade do chão e alvos capões de nuvens muito brancas no pampa azul de um infinito azul; há uma várzea no meu sonho, mas não sei onde será; a alvorada lembra um linho sem mancha, aparando a orvalhada e há musselinas, contas claras de miçanga entre as folhas frescas do pomar. Fomos/somos amigos de verdade. Nós dois, ao caminharmos pelas folhas frescas do pomar!"
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